Eu ouvi dizer que Boston estava sempre um ano atrás de Nova Iorque. Escrevo do “atraso”, sem saber ainda direito o que pensar disso.
Acompanho um jovem casal em busca de algo. Uma mudança na vida, claro, e isso inclui muito bate-perna atrás de apartamentos. A cidade tem me encantado – é uma cidade com tudo o que se pode esperar: prédios altos no centro, lojas de rede, bairros descolados cheios de cafés e seus intelectuais, movimento no metrô na hora do rush, meninos loiros dos olhos azuis voltando da sua aula de tênis e gente parada na frente dos bares, fumando um cigarro entre uma e outra merecida cerveja. Talvez sempre um pouco atrás de Nova Iorque, mas por enquanto me parece ser porque aqui o tempo demora mais a passar. Lá, quando vai ver, já foi. Aqui tudo parece estar sendo ainda, calmamente.
Sem qualquer preconceito, andamos entre todas essas figuras e seus bairros, irrigados de significados para eles, não para nós. Nós somos turistas, transitando por entre mundos que não nos pertencem, tentando sem informação mastigada alguma decidir em uma semana qual desses mini-mundos-bairros se encaixam melhor com as pessoas que consideramos ser.
Entendo com meu coração inteiro essa sensação assustadora durante uma decisão tão desinformada dessas. Andar no escuro, saltar com tudo no assustador desconhecido. Já morei em vários cantos de Nova Iorque, e ainda sigo descobrindo coisas novas sobre cada um deles. Do Upper East Side ao fim do Brooklyn, ao Upper West Side, de volta ao meio do Brooklyn, e agora no Lower East Side. A cada mudança, talvez mais perto do meu bairro ideal. Mas a sensação é de descoberta, sempre, mesmo depois de anos. As aparências enganam, só a vivência informa - não, ainda não é esse o lugar onde quero morar.
Tenho estado em crise com Nova Iorque – essa cidade aqui ao lado, sua vizinha mais tranquila da costa Leste, hoje me parece muito mais eu. Do meio do meu contrato de um ano no apartamento e dois anos no mestrado, me vi pensando: “não seria eu mais feliz em Boston? Ou até em Tamandaré?”. Talvez seja só o fim do inverno que demora tanto a chegar, e a exaustão dessa vida sem ar livre, sem vento, seca de radiodores ora frios ora quentes demais, e os dias curtos que fazem a já acelerada vida passar ainda mais rápido; ou talvez a culpa seja da chegada da primavera, e suas “alergias”. Nunca entendi essa mania hipocondríaca norte-americana de alergias, mas tenho me sentido atropelada por mil tratores todos os dias, e um dia alguém disse “é a troca das estações”. Caramba, até as estações do ano para passar doem? Não bastam meus dolorosos e periódicos renascimentos internos e dores da alma?
E a gente segue deixando invernos pra trás, passando por dolorosas (e floridas) primaveras, correndo atrás dos verões. Que, alguns meses depois, passam, e encaramos novos invernos, primaveras, verões, outonos, invernos... Com sorte, nunca no mesmo lugar.
Acompanho um jovem casal em busca de algo. Uma mudança na vida, claro, e isso inclui muito bate-perna atrás de apartamentos. A cidade tem me encantado – é uma cidade com tudo o que se pode esperar: prédios altos no centro, lojas de rede, bairros descolados cheios de cafés e seus intelectuais, movimento no metrô na hora do rush, meninos loiros dos olhos azuis voltando da sua aula de tênis e gente parada na frente dos bares, fumando um cigarro entre uma e outra merecida cerveja. Talvez sempre um pouco atrás de Nova Iorque, mas por enquanto me parece ser porque aqui o tempo demora mais a passar. Lá, quando vai ver, já foi. Aqui tudo parece estar sendo ainda, calmamente.
Sem qualquer preconceito, andamos entre todas essas figuras e seus bairros, irrigados de significados para eles, não para nós. Nós somos turistas, transitando por entre mundos que não nos pertencem, tentando sem informação mastigada alguma decidir em uma semana qual desses mini-mundos-bairros se encaixam melhor com as pessoas que consideramos ser.
Entendo com meu coração inteiro essa sensação assustadora durante uma decisão tão desinformada dessas. Andar no escuro, saltar com tudo no assustador desconhecido. Já morei em vários cantos de Nova Iorque, e ainda sigo descobrindo coisas novas sobre cada um deles. Do Upper East Side ao fim do Brooklyn, ao Upper West Side, de volta ao meio do Brooklyn, e agora no Lower East Side. A cada mudança, talvez mais perto do meu bairro ideal. Mas a sensação é de descoberta, sempre, mesmo depois de anos. As aparências enganam, só a vivência informa - não, ainda não é esse o lugar onde quero morar.
Tenho estado em crise com Nova Iorque – essa cidade aqui ao lado, sua vizinha mais tranquila da costa Leste, hoje me parece muito mais eu. Do meio do meu contrato de um ano no apartamento e dois anos no mestrado, me vi pensando: “não seria eu mais feliz em Boston? Ou até em Tamandaré?”. Talvez seja só o fim do inverno que demora tanto a chegar, e a exaustão dessa vida sem ar livre, sem vento, seca de radiodores ora frios ora quentes demais, e os dias curtos que fazem a já acelerada vida passar ainda mais rápido; ou talvez a culpa seja da chegada da primavera, e suas “alergias”. Nunca entendi essa mania hipocondríaca norte-americana de alergias, mas tenho me sentido atropelada por mil tratores todos os dias, e um dia alguém disse “é a troca das estações”. Caramba, até as estações do ano para passar doem? Não bastam meus dolorosos e periódicos renascimentos internos e dores da alma?
E a gente segue deixando invernos pra trás, passando por dolorosas (e floridas) primaveras, correndo atrás dos verões. Que, alguns meses depois, passam, e encaramos novos invernos, primaveras, verões, outonos, invernos... Com sorte, nunca no mesmo lugar.
Ju, amei esse texto. Eu li a primeira frase e sabia que era seu!
ResponderExcluir