terça-feira, 17 de março de 2009

Meu encontro com a máfia napolitana


Hoje, depois de muito esquentar a cabeça pensando numa boa mentira pra contar pra vocês, me lembrei de uma história que parece mentira, mas não é. Eu estava lá. E vou contar.

Bom, tudo começou com uma aventura, que era ir à Nápoles tentar fazer um curta-metragem documentário sobre os enormes lixões a céu aberto, às muitas toneladas de porcaria espalhadas pela cidade e... a máfia napolitana! Sério mesmo! É que eu tenho um amigo megalomaníaco, então...

Compramos as passagens de avião e eu comecei a buscar no google informações úteis. Confesso que todas as informações adquiridas e memorizadas não me serviram de muito. Mas, tudo bem.

Chegamos lá já de noite, munidos com o nosso manualzinho de Español – Italiano – Italiano - Spagnolo. “Grazzie mile”. “Io sono brasiliana”. “Io no parlo italiano”. “Tutti avanti, tutti subito”. “Mamma mia”.

Bom, com um pouco de sorte e com a malandragem do rapaz – que mais parece carioca que espanhol – chegamos ao albergue. Primeira prova superada. Nos instalamos e saímos pra comer. Entramos em contato com um italiano amigo de um amigo de um amigo, que trabalha, de vez em quando, esporadicamente, com produções audiovisuais. Beleza! O cara ia nos encontrar na manhã seguinte pra um bate-papo. Pelo menos já tínhamos um bate-papo ítalo-espanhol garantido.

Na manhã seguinte, eis que chega a peça: Andrea. Se existe alguém no mundo com cara de italiano, esse cara é o Andrea. Nos apresentamos e ele, que arranhava um espagnolo, nos convidou pra dar uma volta de carro, assim poderia nos mostrar melhor a cidade e o caos nela instalado. Massa!

Começa o passeio e eu vou, gradualmente, me impressionando. Não é que a máfia italiana despeje resíduos tóxicos em Nápoles. A história é que Nápoles é a lixeira da Itália. Simples assim.

Bom, mas essa é outra história. Sigamos com a aventura.

Depois de um longo dia de “reconhecimento do território”, fomos comer pizze frite e bailar tango! O Andrea se mostrou um craque não somente no quesito guia-turístico como também no quesito pé de valsa. Dançamos e bebemos todas. Saímos daí e resolvemos espairecer um pouquinho na beira do mar. Entramos no carro. Dessa vez era o Giovanni, um amigo do Andréa, que dirigia. O carro arrancou e eu grudei no banco. O cara dirigia feito um louco: cantava pneu, costurava geral, freava bruscamente... E eu parecia um boneco de Olinda no banco de trás. Agarrada no puta-merda, suando frio e pensando: meudeusdocéu, nunca imaginei que seria esse o meu fim!

Chegamos na praia e eu prometi pra mim mesma que voltaria de qualquer outra maneira pro albergue, menos naquele carro. A verdade é que no último dia da viagem eu estava até acostumada com a loucura do trânsito, das motos... mas nesse dia ainda não. Convenci meu amigo megalomaníaco a voltar a pé comigo.

Hoje, passado quase um ano, reconheço que talvez não tenha sido a melhor idéia, mas tivemos sorte. Passamos por brigas de bêbados e garrafas voadoras, discussões acaloradas e esquinas escuras, gritarias italianas e sujeitos estranhos...

Mas isso não foi nada, o melhor estava por vir.

Na terceira noite, depois de um dia inteiro de relax na paradisíaca ilha de Capri, resolvemos sair pra jantar. Na volta pra “casa”, caminhávamos por uma dessas ruazinhas estreitas de paralelepípedo, quando, de repente, vem um carro a mil por hora e, cantando pneu, freia a poucos metros de nós, como que bloqueando a passagem. Descem cinco marmanjos mal encarados e nos olham torto. Eu quase tive um troço. Já havíamos escutado bastantes histórias a respeito dos pilantras locais.

Não precisei dizer nenhuma palavra. Meu amigo estava mais branco que uma folha de papel. Nos olhamos e começamos a correr pela única saída possível: uma pequena rua à direita. Corremos até não poder mais. Olhamos pra trás. Ufa! Nem sinal. Eles deviam estar se divertindo com a nossa desgraça naquele exato momento.

Respiramos e nos situamos outra vez. Seguimos, dessa vez com pressa, pra casa. Já quase chegando no nosso portal, escutamos o barulho de uma moto se aproximando em alta velocidade. Não tive tempo pra pensar. Eu avistei a moto e, encima dela, um homem com um braço estendido ao céu. Em sua mão reluzia uma arma prateada. Caralho! Foi o tempo de grudar na parede e fechar os olhos com força. Meu amigo veio junto, nos agarramos um ao outro e... a moto passou, voando.

Chega! Eu não queria mais brincar...

Em Nápoles as pessoas são demasiadamente espirituosas pro meu gosto...

2 comentários:

  1. Ai, que horror!!! Aventura demais, mesmo! Depois dessa, juro que penso duas vezes quando alguém de atrever a perguntar:
    - Vamos à Nápoles?

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  2. Napoles eh mesmo extraordinaria. Foi la onde eu conheci no mesmo santo dia uma senhora roxa (mas viva e caminhando) e um senhor com voz do tipo Stephen Hawking (mas que ainda "arranhava" um portugues).

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