segunda-feira, 9 de março de 2009

1° dia - 2ª parte

Eu, que costumava dar a vitória ao vento sobre o barulho e só dormia de janela aberta, tive uma noite para repensar esse comportamento. Nunca achei que carros passando fossem ser tão anti-soníferos. Mas foram. Talvez carros somados a uma noite anterior - no mínimo - adrenalizante sejam anti-soníferos. O fato é que entre fechadas de olho e um sono totalmente quebrado, os tais sonhos deliciosos que resultariam em uma incrível e revigorante noite, não aconteceram.

Quando o despertador gritou eu irracionalmente desliguei o tal incômodo, virei pro outro lado e fechei os olhos. Quando eles foram abertos novamente eu já estava 15min atrasada. Pulei da cama e lembrei da cafeteira. Aquela supermegaprática cafeteira elétrica minha amiga que é só por o filtro, o café, a água, apertar o botão e, quase que em um passe de mágica, surge o meu café.

Do alto da minha incrível eficiência extrema, resolvi ser esperta e ao invés de me dar ao trabalho de passar o café na jarra de vidro da própria cafeteira e depois colocar na caneca, - pra que perder mais tempo, né?! - posicionei minha caneca preferida no lugar, medindo com cuidado qual seria o ponto exato para que o café caísse dentro dela. Muito satisfeita minha sagacidade e minha praticidade impecáveis, senti que estava me auto-redimindo depois das trapalhadas na noite anterior, fui tomar banho já me sentindo mais animada por estar dando a volta por cima.

Com café quentinho passado diretamente na minha caneca preferida o dia já ia começar bem, eu ia me sentir melhor e, se é que ficou algum, qualquer trauma da noite anterior seria liquidado. Ia ser tudo lindo. O pequeno detalhe é que a cafeteira mostrou-se extremamente sindicalista e não entrega o café pra ninguém, a menos que esse alguém seja uma jarra de vidro de cafeteira. E pior, ela é daquele tipo de gente que pensa "se eu não vou ter, ninguém mais terá" e solta uma risada maligna no final, só para se divertir às nossas custas.

Quando saí do banheiro, o café que deveria ter caído na minha linda caneca roxa do porco rosa, estava por toda a minha bancada, por toda a parte de cima da cafeteira amarga e por um bom pedaço do chão. Na caneca, necas. E, é claro, que por ter presenciado a cena de ontem e saber da minha relação com a eletricidade, em retaliação à aposentadoria da jarra, ela inclusive jogou café na tomada mais próxima.

Líquido. Na tomada. Líquido que coduz inquestionavelmente bem a eletricidade e pode te matar eletrocutada - vide vários casos de suicídio com inofensivos secadores de cabelo em banheiras. Água, com pó de café, na tomada. Isso significa que eu ia ter que - novamente - encostar na caixa de torturas, porque - obviamente - eu só ia limpar essa armadilha fatal com o disjuntor desligado. E o relógio não parou de contar as horas não, nesse momento eu já estava uma meia hora atrasada. Sem café - em formato bebível, pelo menos - pra começar o dia, sem ter dormido direito, sem um pingo coragem de reagir àquilo tudo (ironia não ter nem um pingo disso e vários mL de café espalhados por vários lugares da casa? Pois é, a cafeteira mostrou-se irônica). Passei reto pelo café e saí de casa sem olhar para o que ficou. Quando cheguei no estágio e contei minhas aventuras tudo já melhorou; me pagaram um cafécompãodequeijoborrachudo de consolo e logo mais eu consegui rir de tudo. Enfim. Lição do 1º dia? Não é só porque o café é legal que a cafeteira também vai ser.

4 comentários:

  1. Caracas, Daya, não sabia se me assustava ou ria do teu texto!

    Muito bom!

    Beijos!!

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  2. incrível que isso tudo tenha ocorrido em tao pouco tempo.
    é a vida, ela passa tao rápido, e nós a descrevemos atrás

    saludos desde Montevideo

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  3. Muito bom!!
    Adoro me pegar dando risada pra tela do computador... Especialmente quando acontece bem no meio de uma confusão dos diabos e todo mundo do trabalho percebe que eu não tô fazendo picas! heheheh

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  4. Desculpe o comentario, mas eu adooooro a caixa de torturas! Eh praticamente uma aventura a la Indiana Jones dentro de casa, todo dia! Quer coisa mais excitante?!?

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