quinta-feira, 5 de março de 2009

CaRtA PoStAdA


PS: Não adianta tentar enganar; essa foi escrita no verão, quando nem a neve nem a presença mágica do Sassá me transformavam a vida ainda.


Amigo de Brasília,

Nossa, meu amigo! Quantos amores você tem vivido! A vida aqui anda corrida, agitada, doída até. E paixões não têm tido muito espaço.
Por vezes, me lembro das histórias malucas pelas quais essa Brasília de cores me viu passar. E tenho saudades.
Saudades do pânico adolescente, de quando a gente tem cer-te-za de que vai morrer de amor.

Hoje em dia, sabendo que disso não morro mais, deixo aquela dor fininha que dá no peito ir e vir como bem entende. Ela manda na gente.

A tranqüilidade me faz diferente.
Encaro essa cidade com um desespero desenfreado que, de repente, me surpreende por conter em si uma maturidade incrível, que me acalma e afaga o ego.
Somos competentes.
Digo e repito: essa cidade estranha aqui, que carrega o mundo todo numa esquina, não me engole.

A saudade que tem me atormentado é da cidade daí. Que é a saudade de casa, dos amigos, de histórias. Brasília tem uma poesia, que é diferente da magia tropical do Rio, que enlouquece forasteiros e os toma o coração por completo, ou da loucura de Sampa, que tenta enganar a gente chegando na hora e abrindo poupanças.
Ainda nova e já tão cantada. Brasília menina.
A saudade que tenho desse planalto vermelho é saudade da minha vida de patins e pôr-do-sol, de teatro, conic, rock'n roll. :o)
Minha vida de copos e kibes (tantos!), de Arleudos, Cíceros, Feitosas...

E agora aqui, sob o calor infernal que os arranha-céus trancam na cidade, a circulação do capital que nos assusta com sua atroz velocidade, e a batalha diária que se trava em torno dele, curioso é o meu andar por entre suas ruas e avenidas. Já desço a cidade a pé como que me adonando de suas luzes, de seus ares. Nuevos Aires.

E minha latino-americanice, minha saudade toda, latina, exagerada, cheia de si, fica guardada nas coisas que eu vivi.

Assim como um dia tanta gente desembarcou nessa cidade menina (onde eu, menina, também cresci), há pouco parti, sozinha. Preciso crescer longe dela, longe do aconchego de seus números e de sua solidão. Sim, essa solidão burguesa que a gente dribla num piscar de olhos, você sabe.
Ela me ensinou lições que tenho posto a prova, sem falsa modéstia, por vezes, de forma brasileira magistral.

Não, não tenho novidades. Ainda tô fodida, lascada e sem dinheiro, mas as boas intuições me deixam serena e feliz.

Aguardo ansiosa as tuas palavras, que sei lá como as escolhe debaixo desse céu de nuvens raras e de tanta poesia.

Beijos,
Sua amiga de Nova Iorque.



Por Anita Petry

2 comentários:

  1. Eu tô adorando ver os estilos de cada uma...
    Adoro o jeito sutil que você coloca poesia em tudo!

    Beijos!

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  2. Conheço essa...

    E vc como anda sunshine?

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