sábado, 14 de novembro de 2009

O Glamour de um Sabado a Noite



Ha muito me libertei da ideia fantasiosa de que viver em Nova Iorque e puro glamour.

Pelo vigesimo sabado consecutivo, a possibilidade de botar aquele salto alto, a maquiagem comprada ha um mes e nunca usada, parece bem improvavel. Como se eu nao fosse mais uma jovem solteira independente, absolutamente sublimei a possibilidade de botar o narizinho para fora de casa. Nada de mulher moderna desfilando pelo Lower East Side.

Nao me pergunte por que. Sei que fiz as unhas, botei o pe de molho e a cabeca, enrolada numa toalha, melequei de creme para tratar meus cachos danificados.

Ainda existe um pouco de culpa de estar linda e hidratada dentro de casa, e minhas vontades se misturam inclusive a falta de habilidade em detectar minhas vontades, entao a multidao em mim mesma vira uma tremenda muvuca, isso sim. Um baita empurra-empurra.

Agora, so sei que o sabado ja virou domingo.
E um cheiroso boa noite a voces!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Uma desadivinha


As tradicionais adivinhas são aquelas que lêem, vêem, sonham o futuro, e ele acontece. Usando de mãos, de cartas, de bolas de cristal, de borra de café, de búzios, de intuições mais diversas; elas pensam e ele acontece. O que pouca gente sabe é que existem - algumas poucas pobres soltas por aí - desadivinhas. Eu, pessoalmente, me enquadro no grupo das desadivinhas que têm visões. Tenho, constantemente - há algum tempo - tido visões. Dirijo e vejo todos os acidentes que poderiam acontecer naquele instante, cozinho e cheiro todas as combinações que poderiam surgir, sonho e desenho as mais inúmeras possibilidades encontrivas (e desencontrivas). E nada acontece. Andava frustrada com a minha inaptidão paranormal, quando me dei contei que o único problema na história era justamente a minha linha de raciocínio. Claro que sou uma péssima adivinha, porque eu sou uma ótima desadivinha. E faz todo sentido do mundo as desadivinhas existirem. Nesse mundo em que tudo tem o seu equilíbrio, seu oposto, seu contraponto, seu yin-yang, branco e preto, positivo e negativo, adivinhas e desadivinhas. Assim como é útil ter alguém que adivinhe o futuro, tenho percebido como é fundamental ter os desadivinhos soltos por aí. Começei a me convencer que muitos mais acidentes e fatalidades aconteceriam se não fossemos nós, desadivinhos. Todas as coisas horríveis que eu sinto e vejo acontecendo todos os dias, não acontecem! Naquele instante que o poste poderia ter caído, que o carro poderia ter derrapado, que o copo poderia ter quebrado e um dos cacos voado para o olho do segurança que faria um movimento brusco e derrubaria a senhora no chão. Não. Nada acontece. E eu vi tudo acontecer. E senti tudo acontecer. E exatamente porque eu senti e vi, tudo segue. Sem poste caído, sem derrapada ou copo quebrado. Mas, por óbvio, o lado ruim está presente: pensar e ver coisas e surpresas boas que poderiam acontecer, pessoas que poderiam chegar, abraços que eu poderia ganhar, ligações para receber. Vejo tudo, só para o tempo passar e elas não acontecerem. Pois é. Nada agradável. Ou pior ainda: ser pega desprevinida, com um terrível solavanco desses de derramarem água dos olhos, e pensar - depois do acontecido acontecer - que bastaria ter pré-visto e nada disso aconteceria. Enfim, a vida de uma desadivinha não é nada fácil. Mesmo. Ainda mais de uma tão sonhadora. Pé no chão seria a solução? E que venham as bolhas da caminhada? Bem que voar poderia não ser tão atrativo assim. Bem que.