segunda-feira, 22 de junho de 2009

O limite


A gota que faltava para transbordar, a força que faltava para romper. Quando a linha está por arrenbentar, como saber qual é o ponto em que ela vai, de fato, arrenbentar? Quando chega a hora certa de falar, de pedir, de agir, de perdoar. Como saber qual é a hora certa de pedir um beijo, uma ajuda, um café? Que a mágica existe e acontece, eu não duvido. Mas o que fazer na hora em que ela some? Em que parece que a engrenagem antes silenciosa e funcional, já está seca e rangedora a mais tempo do que deveria? Na hora em que o tênis molhado começa a, não só, pesar, mas a incomodar. Saber a hora de sair nunca foi minha especialidade. Sempre muito apressada, muito ansiosa, acho que costumava sair antes da hora, em todo espetáculo importante. Mas e agora? E se ele já acabou e eu não enxerguei, perdida no meio das minhas auto-medições, nessa busca ensurdecedora pelo meu limite, pelo meu equilíbrio.

Se o timing eu perco e - dizem - ele é tudo, o que me sobra? Eu me sobro ou me falto? Me basto ou me incompleto? Sempre tão tênue a distância entre a harmonia e o caos. Sempre tão oscilante entre os dois que, ao que parecer, o oscilar é, paradoxalmente, a minha constância. Meu mais frequente jeito de ser: sou variável. É querer os opostos, juntos, ao mesmo tempo, enquanto eu me divido e me somo entre os dois. É querer estar lá, mas gostar tanto daqui. É doer e sorrir ou é não sentir e chorar. É me esconder do jeito mais cretino: me expondo. Me mostro para me esconder, me escondo quando quero que me vejam. Idioticamente esperando quem nem disse que estava vindo. Idioticamente fugindo quando sei que sou esperada. Meu limite é, certamente, algo bem definido e com o qual eu, definitivamente, não me defino bem.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Solitário Jorge


Jorge é uma tartaruga. O último da sua espécie, originária das Ilhas Galápagos. Estima-se que o jovem rapaz tenha uns 110 anos, aproximadamente. Levando-se em consideração que as tartarugas chegam a viver mais de duzentos anos, ele está na flor da idade.

Aí botaram o Jorge em contato com tartarugas fêmeas de espécies (reinos, filos, famílias, sei lá, isso é com as biólogas do blog) parecidas, para tentar reproduzir. Após meses de expectativa, os pesquisadores identificaram que uma dessas tartarugas tinha posto nove ovos. Surgia então, a esperança.

No entanto, o tempo passou e nunca saíram tartaruguinhas daqueles ovos. Tempos depois, outra fêmea botaria ovos. De novo, nada.

Descobriram que Jorge é infértil.

O último exemplar da espécie, a última esperança, não pode reproduzir. Ironias do destino.

Por Marieta Cazarré